O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, na sexta-feira (02/02), que afrodescendente "gosta do batuque de um tambor". A declaração foi feita durante uma cerimônia na fábrica da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, em São Paulo.
No momento da fala, Lula discursava sobre investimentos em educação para a população jovem. Para exemplificar o tema, ele chamou ao seu lado uma jovem negra que acompanhava a solenidade. Lula disse que, ao avistá-la, não soube se a jovem era "cantora", "namorada de alguém" ou mesmo "percussionista", pois, segundo ele, "afrodescendente assim gosta do batuque de um tambor".
De fato, Luiza Eduarda Leôncio, de 20 anos, não é cantora, nem estava na cerimônia por ser "namorada de alguém". Ela é operadora especialista da Volkswagen e foi contemplada com o prêmio Apprentice Award 2023, uma honraria conferida ao melhor aprendiz da empresa.
A jovem estuda Engenharia de Instrumentação, Automação e Robótica na Universidade Federal do ABC (UFABC). Com o prêmio, Luiza foi contemplada com um intercâmbio cultural para a Alemanha e será a representante do Brasil em uma conferência da Volkswagen a ser realizada na cidade de Wolfsburg.
De acordo com preceitos ideológicos, defendidos, inclusive, pelo Partido dos Trabalhadores (PT), é condenável que se atribua ou minimize o destaque alcançado por pessoas do gênero feminino, fazendo relação entre sua aparência física e o imaginário comum – a exemplo da fala de Lula, que interpretou que uma mulher negra com tranças no cabelo "deve ser cantora"- ou que se faça relação com um estereótipo religioso e pior ainda: à sua sexualidade.
Segundo a cartilha ideológica, é como se a pessoa que comete racismo afirmasse, por exemplo, que aquela mulher negra, jovem e com tranças no cabelo não pode ser uma pesquisadora, engenheira ou funcionária do setor administrativo da montadora.
O argumento amplamente defendido por ministros, como Silvio Almeia (Direitos Humanos) e Anielle Franco (Igualdade Racial), é que o racismo está enraizado ou "estruturado" na sociedade e nos indivíduos, a ponto de fazer com que pessoas "menos iluminadas" reproduzam falas como a do presidente da República.
Sobre o ocorrido desta sexta, o jornal O Estado de São Paulo buscou contato com a Secretaria de Comunicação Social, com o Palácio do Planalto e com o Ministério da Igualdade Racial para repercutir a declaração, mas não obteve retorno.
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