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POLÍTICA

Em menos de dois anos Lula já deixou vencer mais vacinas do que em quatro anos de governo Bolsonaro; prejuízo é de R$ 1,7 Bilhão aos cofres públicos


Foto: Ricardo Stuckert

Um levantamento inédito sobre o uso de vacinas no Brasil revela que, desde 2023, quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência, o governo federal deixou vencer 58,7 milhões de doses de imunizantes, superando em 22% a quantidade descartada nos 4 anos do Governo Bolsonaro. Durante esse período, 48,2 milhões de vacinas não foram usadas dentro do prazo de validade.

Especialistas apontam que esse aumento no desperdício pode ser atribuído a falhas na gestão, como a compra de vacinas próximas ao vencimento, além do crescimento de movimentos antivacina. O Ministério da Saúde, por sua vez, justifica parte das perdas alegando que muitos imunizantes recebidos foram da gestão anterior.

De acordo com dados obtidos pelo jornal O Globo, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), o valor perdido com as vacinas vencidas em 2023 e neste ano, até a última segunda-feira, atingiu R$ 1,75 bilhão, um recorde. Esse prejuízo já é superior ao acumulado nos 4 anos do 2º mandato de Lula, que foi de R$ 1,96 bilhão.

O montante desperdiçado nos últimos dois anos poderia ser utilizado, por exemplo, para comprar 6 mil ambulâncias ou 101 milhões de canetas de insulina, que estiveram em falta nos postos de saúde no primeiro semestre de 2024.

Para evitar novos desperdícios, o Ministério da Saúde adotou medidas como a entrega parcelada das vacinas pelos laboratórios e a possibilidade de troca por versões mais atualizadas dos imunizantes, conforme aprovado pela Anvisa.

A maior parte das perdas ocorreu em 2023, com 39,8 milhões de doses inutilizadas, representando um prejuízo de R$ 1,17 bilhão. Já neste ano, até o momento, mais 18,8 milhões de doses foram descartadas, com um custo de R$ 560,6 milhões.

O Ministério da Saúde informou que, ao assumir, encontrou estoques de vacinas contra a Covid-19 com prazos vencidos. A pasta atribui a quantidade de vacinas descartadas em 2023 ao estoque herdado da administração anterior e à desinformação, que gerou desconfiança na população sobre a eficácia e a segurança dos imunizantes, afetando a adesão à vacinação.

Além do maior número de vacinas descartadas, a atual gestão desperdiçou mais doses do que utilizou. Das 58 milhões de vacinas perdidas, muitas eram de frascos com mais de uma dose, o que elevou a quantidade de desperdício. Ao todo, desde o ano passado, foram aplicadas 217 milhões de doses, enquanto 385 milhões de doses precisaram ser descartadas, o que representa um aumento de 176% no desperdício, em comparação aos 150% registrados no governo Bolsonaro.

As vacinas contra a Covid-19 representam três quartos das doses descartadas. Apesar disso, a adesão à vacinação de reforço contra a doença continua baixa, com 80,62% da população ainda sem tomar a segunda dose de reforço.

A médica Margareth Dalcolmo, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e embaixadora da imunização no Brasil, destacou que a baixa adesão e a chegada de vacinas perto do vencimento foram fatores determinantes para o aumento das perdas. Ela também ressaltou a complexidade da logística de distribuição e a lentidão do processo de vacinação.

Outros imunizantes, como as vacinas contra difteria, tétano e coqueluche (DTP), febre amarela e meningocócica, também apresentaram índices de desperdício, embora a cobertura vacinal tenha aumentado. A vacinação contra DTP, por exemplo, subiu de 64,4% em 2022 para 87,5% em 2024, enquanto a cobertura contra febre amarela foi de 60,6% para 75,4%.

Carla Domingues, epidemiologista e ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), sugeriu que a busca ativa por mais vacinas, especialmente entre crianças e outros grupos prioritários, é necessária para evitar o desperdício.

Alexandre Naime, coordenador da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirmou que o governo falhou nas campanhas de imunização e na gestão do sistema de saúde. Ele destacou que, se não houver mudanças, o desperdício continuará.

José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde, sugeriu que a redução da procura por vacinas pode ser explicada pelo sucesso do PNI, já que muitas doenças desapareceram do Brasil, levando os pais a não buscarem mais as vacinas. Ele também mencionou a diminuição dos gastos com publicidade e estratégias de comunicação, fatores que, segundo ele, contribuíram para a baixa adesão.

Embora o desperdício de vacinas nunca tenha sido um grande problema de saúde pública no país, especialistas enfatizam que é necessário garantir uma gestão mais eficiente para evitar a perda de recursos e aumentar a cobertura vacinal.


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Gazeta Brasil

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