O jornal suíço Neue Zürcher Zeitung (NZZ) publicou, nesta quarta-feira (15/01), uma matéria sobre o judiciário brasileiro, acusando um "abuso de poder" em diversas instâncias do sistema. A reportagem destaca os privilégios e benefícios usufruídos por juízes e promotores no Brasil, apontando uma série de vantagens que ultrapassam os limites legais e éticos, criando uma "elite jurídica" no país.
O texto faz referência a um dos eventos mais controversos do cenário jurídico brasileiro: o Fórum Jurídico de Lisboa, realizado em Portugal e promovido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. O evento, que ficou conhecido como "Gilmarpalooza", contou com a presença de autoridades, advogados, políticos e conselheiros, gerando críticas por sua associação com interesses privados e empresas envolvidas em processos judiciais.
"Imagine o seguinte cenário na Suíça: uma vez por ano, um juiz de um tribunal federal convida-o para uma grande reunião jurídica num resort de luxo nas Caraíbas. Não apenas metade do tribunal e várias dezenas de advogados proeminentes são convidados, mas também políticos, conselheiros governamentais e altos funcionários. O evento de vários dias é patrocinado por empresas que são clientes dos advogados ou cujos casos estão atualmente em julgamento", descreve a reportagem, ressaltando a imagem negativa que isso pode gerar sobre a independência judicial.
O jornal também questiona as condições de trabalho dos magistrados no Brasil, destacando benefícios que incluem 60 dias de férias anuais, a possibilidade de "vender" parte dessas férias, e uma remuneração que, em muitos casos, ultrapassa o teto constitucional estabelecido. Esses privilégios geram um forte contraste com a realidade de boa parte da população brasileira, que lida com um sistema de justiça muitas vezes inacessível e lento.